Dentro da mente de cada um de nós há uma voz que nos afronta e ao mesmo tempo guia nossas atitudes. Não estou falando da voz do Espírito Santo neste caso, mas da voz da autocobrança. Este recurso mental que nos serve como uma espécie de “conselheiro” pode ser extremamente nocivo em certos níveis.
A autocobrança é importante e quanto a isso não há dúvidas. No entanto, há casos em que a pressão interna que a autocobrança causa chega a níveis absurdos e transforma uma pessoa saudável em paranoica, desesperada e cheia de comportamentos obsessivos compulsivos.
Este é um momento para refletirmos sobre. O quanto temos nos cobrado? O quê temos cobrado? Estas cobranças fazem algum sentido? A sua autocobrança deixou de ser um mecanismo de segurança e tornou-se um mecanismo que visa a perfeição? Chegou a hora da introspecção¹.
Defeitos Inaceitáveis
Às vezes a autocobrança passa dos limites. Não podemos deixar a realidade para adentrarmos um mundo utópico. Digo isto, pois é exatamente o que acontece na vida de algumas pessoas. Estas se esquecem de uma verdade incontestável: todos nós temos defeitos e jamais seremos perfeitos (pelo menos enquanto vivermos neste mundo).
Todavia, o eu nem sempre entende (ou aceita) este fato. Por algum motivo na maioria das vezes desconhecido, tendemos a buscar uma perfeição impossível de ser alcançada. Esta busca inútil pode ser oriunda de pressões ou frustrações na infância.
Neste estilo de autocobrança não há espaço para defeitos. Há níveis para este padrão de cobrança que variam entre não aceitar os próprios defeitos até exigir a perfeição de tudo e todos. O resultado, neste caso, é o isolamento social, a ansiedade e até mesmo a depressão.
Não permita que a sua mente te engane desta forma! Aceite os seus defeitos. Ria deles. Permita-se errar, pois você também é um ser humano. Não estou te motivando a viver no erro, entretanto o(a) motivo a ter autocompaixão durante os tropeços.
Empatia Exagerada
O mecanismo de autocobrança pode trabalhar de maneira oposta à anterior. Enquanto o perfeccionismo nos pressiona de dentro para fora, a autocobrança disfarçada de empatia exagerada nos pressiona de fora para dentro. Reflitamos.
Pensar nas outras pessoas é um ato nobre, digno de louvor. Pensar no que os outros estão pensando também é algo bom. O altruísmo é essencial para um bom convívio em sociedade, além de ser um grande sinal de amor. Mas até que ponto este exercício deixa de ser saudável?
Este recurso mental merece atenção principalmente quando o eu quer nos adequar àquilo que pensam à força. Ou seja, eu deixo de me colocar no lugar do outro para me encaixar na preferência do outro. Agindo assim, deixo de ser eu mesmo ou fazer aquilo que gosto para tentar constantemente obter a aprovação do outro.
O grande problema aqui é que nunca conseguiremos agradar a todos totalmente. O ser humano naturalmente enxerga defeitos ao seu redor e esta prática parece ser infindável. Temos a velha mania de reclamar sempre (e não aprovo tal comportamento, pelo contrário, levanto aqui uma crítica a todos nós).
Então até que ponto devo me cobrar diante do pensamento alheio? Até o ponto em que mudo porque estou realmente errado diante de Deus e não porque desagradei alguém por motivos banais. Já imaginou um mundo onde você só vestisse aquilo que todos aprovassem? Parece um mundo impossível, não?
Autocobrança: Objetivos Grandes Demais
Um tipo de autocobrança muito comum nos tempos atuais. Não que ela seja completamente ruim, no entanto há uma linha tênue entre ela e inúmeras doenças psicológicas.
Neste caso, as pessoas traçam objetivos grandiosos (e isto é admirável, até porque geralmente pessoas sem sonhos são pessoas vazias), mas não respeitam o ritmo ideal para chegar até o destino que tanto anseiam. Quanto a esta situação, a Bíblia nos deixa uma verdade.
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. – Eclesiastes 3:1-8
É necessário respeitarmos o tempo das coisas. Não somente isto, mas também respeitar o próprio corpo e seus limites físicos e mentais. Nunca deixe em segundo plano os momentos de lazer, de descanso, em família e, principalmente, seus momentos com o Pai. Sua autocobrança não pode falar mais alto do que seu amor pelo Senhor, as pessoas que você ama e a sua própria saúde.
Portanto, faça objetivos sim e não desista deles, contudo respeite a jornada e suas etapas.
Estas são apenas algumas das formas que a autocobrança pode tomar dentro de um indivíduo. Vigie esta voz benéfica, mas que pode, em altas doses, destruir a vida e a autoestima de uma pessoa.
APÊNDICE:
1 – Introspecção, em suma, é o ato de olhar para dentro de si, observar os processos mentais, pensamentos e os anseios da alma.