Abra o Coração, Feche a Solidão

Conheci muitas pessoas emocionalmente fechadas nesta vida. Antes que pense o contrário, afirmo que também fiz parte deste time. A verdade é que deixar as portas da alma sempre fechadas é algo bem cômodo e aparentemente seguro. Sem intromissões, sem palpites, sem exposição.

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Mas quem consegue permanecer mentalmente saudável assim? Você já pesquisou a respeito de pessoas que tiveram a experiência de morar em alguma ilha deserta? Os relatos alegam que estas pessoas, quando encontradas, apresentam características que remetem à completa loucura. O isolamento social é extremamente nocivo ao ser humano.

Aqui não estamos falando necessariamente sobre isolamento social. Tratamos agora sobre algo mais profundo: o isolamento da alma. Um muro gigantesco e intransponível é erguido em volta dos nossos sentimentos de tal forma que nem os entes mais próximos conseguem notar algo incomum. Surge então um ator digno do prêmio Oscar.

Convivi com um colega de trabalho por alguns meses que chamou a minha atenção pela sua aparente alegria. Em sua página no Facebook era comum encontrar postagens falando sobre amor, esperança e respeito à vida. Ele mesmo participava de uma campanha popular de prevenção ao suicídio. No dia do seu aniversário em 2018 ele cometeu suicídio.

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Seus muros da alma eram tão imensos que, além de disfarçar muito bem suas tristezas, passavam a impressão de que sua vida era agradável e ele era grato por ela. Quando sua morte foi anunciada, eu e meus outros colegas de trabalho nos questionamos sobre o porquê dele nunca ter pedido ajuda a ninguém. Eu mesmo tive a oportunidade de conversar sobre alguns assuntos interessantes com ele. Seu sorriso era quase constante.

Após certo tempo descobri que seu relacionamento com a família era bem conturbado. Pelo fato de ser homossexual, não foi aceito por boa parte dos familiares. Se sentia sozinho. Não teve pessoas com quem se abrir. Mas este fato não significa que não haveria bons amigos disponíveis para ajudá-lo caso ele buscasse ou se permitisse ser ajudado.

A situação de alguém em depressão já é deveras complicada o bastante para, além de tudo, cedermos ao isolamento. Entretanto, façamos justiça. Para chegar ao nível de isolamento total, é bem provável que o depressivo, por algumas vezes, abriu caminho entre os muros para algumas pessoas e as mesmas simplesmente pioraram o que já estava ruim.

É como aquela velha figura do homenzinho entregando o coração à outra pessoa em um quadro e no quadro seguinte tendo seu coração quebrado e jogado no chão. O ser humano é naturalmente egoísta e realmente tem o hábito de “quebrar corações alheios” sem ao menos se questionar sobre as possíveis consequências.

Saber lidar com esta triste realidade é o primeiro passo para viver bem em sociedade. Não espere dos outros qualquer alento para sua alma. Cada um tem sua própria alma e, a maioria, procura cuidar exclusivamente da própria.

Uns buscam apenas prazer, outros buscam apenas afeto, e nesta busca coletiva desenfreada poucos encontram tempo e energia para cuidar de outros. É a lei da sobrevivência. Apesar de todo este caos, Deus ainda nos mostra seu amor e graça através de alguns anjos em forma de seres humanos.

Da mesma maneira que estas pessoas buscam suprir a própria alma desesperadamente (e encontrarão o que precisam apenas em Jesus), você também deve lutar pela sua saúde emocional. É uma questão de necessidade vital que você ainda acumule forças para entregar as chaves de sua alma a alguém. Você precisa dar acesso a outro ponto de vista.

É claro que não estou dizendo que qualquer um agora poderá atravessar sua zona segura emocional. Longe disso. Vasculhe bem as pessoas ao seu redor. Com toda a certeza há alguém sábio e experiente o bastante para lhe ajudar.

Entenda. Não fomos criados para viver só. Estamos unidos por algum elo invisível que nos fortalece, mesmo que esta união traga consigo desavenças de todas as formas. Este mesmo elo que traz morte, fofocas, humilhação e ofensas é o mesmo elo que traz vida, família, boas risadas e ternos abraços. Tudo vai depender de como você enxerga a humanidade.

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Este que vos escreve já experimentou a sensação de entregar a chave da alma a alguém. Decidi escrever sobre os pensamentos mais fortes que tive diariamente durante o mês de Outubro. Após finalizar o trabalho, imprimi as folhas, as encadernei e dei à minha esposa, namorada na época. Intitulei a obra como “O Melhor Outubro da Minha Vida”.

Escrever aquilo foi um enorme acerto. Minha esposa até hoje diz que ler com atenção tudo aquilo a fez entender meu jeito de pensar e minhas emoções. Nosso relacionamento melhorou bastante após aquela surpresa. Quando as crises me visitavam, lá estava ela, me ajudando e me compreendendo da forma como eu mais precisava.

Já pensou nisso? E se você tentar demonstrar mais as faces da sua alma às pessoas que querem o seu bem? Não espere que alguém te entenda com total clareza. O ser humano tem a dificuldade de compreender e aceitar o desconhecido para ele. Se desconheço, então isto pode ser mentira ou algo mal. Este poderia ser o lema humano.

Porém, mesmo que você não seja compreendido(a) como espera, se abra mesmo assim. Se cem pessoas palpitarem sobre a sua situação, é possível que cinquenta digam algo edificante, trinta despertem sua atenção, dez te façam mudar algumas ideias e uma mude totalmente a sua história. Pontos de vista alheios podem sim salvar alguém. Não estou compartilhando um ponto de vista com você neste exato momento?

Existe uma barreira enorme presente na mente da maioria das pessoas enfrentando a depressão neste exato momento. Esta barreira faz com que o sujeito acredite que não vale a pena se abrir emocionalmente para ninguém, pois não há na face desta Terra um único ser que compreenderá seus sentimentos. Chamamos esta barreira de vitimismo.

O vitimismo geralmente caminha de mãos dadas com a depressão. Em certos casos o vitimismo surge primeiro esticando o tapete vermelho para a depressão. Em outros casos a depressão surge primeiro chamando após algum tempo seu amigo, o vitimismo. Dificilmente estes dois males não trabalharão juntos.

A voz do vitimismo tem o poder incrivelmente terrível de convencer o depressivo de que o sofrimento dele é único e talvez um dos piores sofrimentos existentes no mundo atual. Ou seja, o vitimista é o campeão no quesito sofrimento mesmo em um planeta com mais de 7 bilhões de seres humanos, vários destes sofrendo com a fome, doenças, ditaduras, perseguições ou guerras.

Sendo assim, a pessoa vitimista se nega a se abrir com qualquer pessoa, pois ninguém está à altura do seu sofrimento. Cria-se então a convicção de que nenhum ser pensante é capaz de ouvir e compreender suas reflexões e tristezas. É neste ponto da depressão que o indivíduo começa a trilhar um caminho sem volta, portanto, entender o fato de que o outro também pode ajudar é algo de suma importância.

Procure ver as pessoas como companheiros em um jogo de quebra-cabeça. Dificilmente você encontrará alguém que te indicará onde encaixar todas as peças, afinal de contas, a mente de alguém em depressão está numa fase totalmente confusa. As peças estão espalhadas por todas as partes e até mesmo algumas aparentemente sumiram.

Agora imagine que cada pessoa que lhe oferecer apoio emocional te diga algo que ajude. Pode ser uma frase ou até uma única palavra, vamos as considerar como peças. A questão é que esta pequena peça acrescerá um pouco na organização do quebra-cabeça inteiro.

Supondo que algumas pessoas não digam absolutamente nada de bom (e isso é possível), tente levar em consideração a ignorância das mesmas. Todo ser humano que existe ou já existiu sabe como é se sentir triste com a vida e com o mundo. A diferença é que alguns simplesmente jogam toda a tristeza para debaixo do tapete e aos poucos tornam-se grosseiros, frios e antipáticos. Sei que você, leitor(a), não é assim.

Para finalizarmos este capítulo: não restrinja sua existência a si mesmo(a). Faça o máximo esforço para abrir suas portas da alma reconhecendo a importância de outros seres humanos e, ao mesmo tempo, reconhecendo que talvez nenhum deles possa te entender. Faça um esforço, guarde suas vergonhas e salve sua vida.

Não permita que a depressão ceife sua vida e leve para o túmulo todos os seus segredos e peças fora do lugar. Talvez uma única conversa com um bom amigo te livre de um futuro suicídio.

Pode ser também que sua dificuldade em se abrir com outras pessoas seja o fato de nem você mesmo(a) se compreender. E na maioria dos casos isso acontece. A confusão dentro de nós alcança níveis tão altos que o ato de expressar os sentimentos, mesmo que em um texto de 100 linhas, torna-se uma labuta.

Destarte, cabe a você resumir aquilo que pode ser resumido. Se há a dificuldade de ligar os pontos e elaborar uma explicação, então apenas diga o que se passa em sua cabeça. Cada pensamento pode ser combatido com outro pensamento. Pode ser que este “outro pensamento” esteja na mente de pessoas que você nem imagina.

A pergunta que deixo é esta: o quanto você quer sair da depressão? A sua coragem para se abrir emocionalmente dependerá do tamanho da sua vontade de superar esta doença. Você não está sozinho(a)… não em um mundo com tantas pessoas dos mais variados tipos.

E quando digo que você não está sozinho(a) não afirmo tal coisa com base no número de seres humanos somente. Levo em consideração também o fato de que há alguém lá em cima que te ama muito. Um alguém chamado Jesus. Ele nunca me deixou só, mesmo quando o mundo me virou as costas. Só para frisar: você realmente não está sozinho(a).

Trechos do livro Depressão: Você Pode Superar

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